domingo, 13 de março de 2011

Lamentável!

É sabido a variedade musical que existe no Brasil. Há estilo para todos os gostos. Do rock ao samba, do forró ao eletrônico, etc. Há também misturas de estilos, como o samba-rock, a exemplo. São inúmeros os representantes de nossa música.
Mas o que é música? Li certa vez que é “proporcionar entretenimento, protestar, manifestar sentimentos.” Música não é só letra, sabemos. Mas se tiver, então que esta seja pelo menos lógica e coerente. Pra mim, música tem que ter uma boa melodia, uma boa letra, lógico, além do cantor (a), ter uma voz que nos dê prazer em ouvi-lo (a).
         Sei que todos tem o direito de ouvir o que bem entenderem. Mas fala sério. Sou obrigada a ouvir “coisas” que tenho dificuldade em chamá-las de música. Sim, meu vizinho além de ter um mau gosto desgraçado, obriga a mim e a todos que moram vizinho a ele a ouvirmos certas “porcarias”.
         Hoje, me dei ao trabalho de prestar atenção nas letras que esta criatura nos obriga escutar. Achei lamentável. Aquilo era uma poluição sonora. Deveria ser proibido. Não é só ele não. Essas “músicas” fazem um enorme sucesso entre o público. É evidente que não espero que as pessoas tenham o mesmo gosto musical que eu, mas apreciar uma boa música, pelo menos para mim é bem normal. Anormal é só ouvir (como no caso citado) essas coisinhas que estão na  moda. Ouvi-las só porque estão na moda.
         Oras, ir numa festa e dançá-las é uma coisa, outra totalmente diferente é só tê-las como repertório musical em casa. Sim, falo dessas que vocês estão pensando mesmo. O que uma música dessas no traz para ouvirmos a todo instante?  Alô minha galera, preste atenção/ Rebolation é a nova sensação/ Menino e menina, não fiquem de fora/ Que vai começar o pancadão/ O suingue é bom/ Gostoso de mais/ Mulheres na frente/ Os homens atrás/ Bota a mão na cabeça que vai começar O Rebolation, tion/ O Rebolation/ O Rebolation, tion, Rebolation (...) Ou essa: Sou cachorra, sou gatinha/ não adianta se esquivar/  Vou soltar a minha fera eu boto o bicho pra pegar (Boladona)/ Sou cachorra chapa quente/ Adoro quando me taram/  e fico louca de tesão/  pedindo tapinha na cara (...)  De fato não tenho coragem de colocar aqui  o resto da letra.
         É triste ver minha geração deixando de apreciar boa música sem rótulos. Que fique claro: não estou generalizando, pois Felizmente há pessoas que ainda reconhecem o que é música que tenha uma bela poesia como letra, uma linda composição como melodia, e uma voz admirável de quem a canta.
         Aprecio música primeiramente pela letra. Por eu gostar de escrever, composições constantemente me fascinam. Adoro lê-las. Quando  não me inspiram em nada, provavelmente eu nem chego a ouvi-las. Ah, vamos lá! Estou falando de ouvir música e não de dançá-la. Há uma gritante diferença.
         Leiam isso: Bem maior do que os mares mais profundos/ Bem maior do que os campos que eu vi/ Bem maior que o teatro das estrelas/  É meu amor por ti/  Com a força infinita das rochas/ Bem mais luz que o sol põe no rubi/ Muito mais do que os verdes das matas/ É meu amor por ti (...) e isto: Mesmo quando tudo pede/ Um pouco mais de calma/ Até quando o corpo pede/ Um pouco mais de alma/  A vida não para/ Enquanto o tempo acelera e pede pressa/ Eu me recuso faço hora/ Vou na valsa/ A vida é tão rara (...) Duas bem conhecidas. Vejam que letras! Que versos! Que inspiração maravilhosa! Agora leiam atentamente isso: Deixa que eu te tarraxe bem/ Que faça como ninguém/ Deixa eu te tarraxar/ Mas deixa que eu te tarraxe bem/Que faça como ninguém/  Eu vou te tarraxar(...) e isto: Foge! Foge Mulher Maravilha/ Foge! Foge! Com Super-Man/ Foge! Foge Mulher Maravilha/ Foge! Foge! Com Super-Man/ Foge! Foge Mulher Maravilha/ Foge! Foge! Com Super-Man/ Foge! Foge Mulher Maravilha/ Foge! Foge! Com Super-Man (...) Se ler é irritante ouvir não é?  

Que lamentável! Que lamentável! Lamentável...

Cynthia Rodrigues

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sobre poetas

"O poeta é um abstrator de quinta essências líricas. É um sujeito que sabe desentranhar a poesia que há escondida nas coisas e nas palavras, nos gritos, nos sonhos. A poesia que há em tudo, porque a poesia é o éter em que tudo mergulha, e que tudo penetra.

O poeta muitas vezes se delicia em criar poesia, não tirando-a de si, dos seus sentimentos, dos seus sonhos, das suas experiências, mas "desgangarizando-a", como disse Couto de Barros, dos minérios em que ela jaz sepultada (...)

Há quem censure o poeta por isso. Não me parece avisada tal atitude: a poesia é como o rádium - o milésimo de miligrama constitui uma riqueza que não se deve deixar de perder."

(Poema Desentranhado, in Flauta de Papel, 1957)

(Manuel Bandeira)